quarta-feira, 7 de setembro de 2016

        EXPOSIÇÃO DE PINTURA E DESENHO de Eduardo Palaio  "ROSTOS DO SEIXAL"
                             
A exposição terá lugar na Praça Luís de Camões no Seixal nos dias 17,18, 24 e 25 de Setembro
de 2016 das 10 às 18 horas.

   A iniciativa está integrada num ciclo da C.M. do Seixal relacionado com o Património

                                             
                                            Alguns dos 32 quadros da exposição














A imagem mais impressiva da minha infância no Seixal tinha por cenário uns quarenta metros, que abarcava parte do vai e vem dos trabalhadores da Mundet, ao som do “búzo”: antes das oito, ao meio dia, aos dez para a uma, à tardinha.
Ao meio dia, para os que como eu viviam no sítio da maltinha do beco (pertencente aos de Trás-da-Ponte) o “vem” do rio de gente começava a aparecer a seguir ao Poço das Torneiras, passava rápido pelo Américo , pelo Agulhas e Alfinetes, pelo António do Burro, pela Barroca da Angelina Pinto, frente à qual fica o n.º 98 da tipografia, e a Adozinda a morar por cima, logo colada a loja da Suzete que é do Emílio Rebelo; e desaparecia para lá da “Comprativa” minguando à medida que entravam nas casas para a bucha apressada e sopa.
Na volta, o mesmo, com paragem de alguns na barbearia do César Tápum, frente à casa do Bétinha que tinha no primeiro andar o Custódio maluco, tudo do lado do António do Burro e do Agulhas… - para lerem “A Bola” e dar à má língua. E outra vez a desaparecerem apressados na curva da Loja do Américo e da taberna do Elói.
À tarde tardinha o desfile era mais lento, o da gente da Mundet. Paravam aqui e ali. Uns ficavam pelo César Tápum, outros, logo a dois passos, a seguir à tipografia, na loja da Suzete que é do Emílio Rebelo e, se era tempo de verão, muitos  para a “verbena” uns a comer “lamejinha” outros a servir às mesas e ao balcão, enquanto não se fazia hora de ir para o ensaio da banda, chegar a horas que o Ferreira, o maestro, tem cara de mal-disposto (o Ferreira ou o “Parteira” que também não é de cara-alegre).
Dos que seguiram para diante, uns e umas entram na “comprativa” ou para o avio, ou para a conversa ou vestem uma bata, feito caixeiros improvisados, pegando ao trabalho (sem qualquer paga) no rés-do-chão, na taberna ou nos dois andares de cima; drogaria, mercearia, fancaria e senhas para o pão, no armazém, onde for preciso para bem da “Cooperativa Operária de Consumo 31 de Janeiro de 1911”.
E recordo a menina de onze anos, mais nova do que eu um ano e pouco, que aprendia costura  na modista Angelina, mesmo frente à loja da Suzete que era do Emílio Rebelo, onde se juntavam homens jovens com pretensão de discutir o mundo.
Cem passos dos meus, de uma ponta à outra. 

                                                                                                       Eduardo Palaio                             

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